sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Resenha: A Conquista da Honra


A máquina do tempo de Clint Eastwood

Clint Eastwood sabe muito bem como contar uma história. Tal afirmação pode soar redundante, afinal, Eastwood já tem em sua estante dois Oscars de melhor diretor por “Os Imperdoáveis” (1992) e “Menina de Ouro” (2004). Mas é essa a sensação presente quando aparecem os créditos de “A Conquista da Honra” (indicado em duas categorias do Oscar 2007 - Melhor edição de som e Melhor Mixagem de som), primeira parte de um projeto ousado que conta a história da batalha na ilha de Iwo Jima, no Japão, durante a 2º Guerra Mundial.

Lembrando a frase: “A imagem certa pode ganhar uma guerra”, Clint desvenda a polêmica por trás da foto tirada pelo fotógrafo Joe Rosenthal, que mostra soldados americanos colocando a bandeira dos Estados Unidos no topo de Iwo Jima. Dias após o registo, tal imagem estampava todas as capas de jornais da América, passando a falsa impressão de que os EUA haviam vencido a batalha que estava apenas em seu inicio.

Apesar da celebre foto de Rosenthal representar seu porto seguro, “A Conquista da Honra” se torna especial por mostrar os bastidores do confronto e os soldados de forma particular. Logo depois de fixar a bandeira no topo da ilha japonesa, os soldados que realizaram tal ato foram chamados para retornar aos EUA, porém, em vez de serem mandados para suas casas, o governo norte-americano realizou uma turnê pelo país, apresentando os heróis para o povo e usando-os para arrecadar fundos para o exercito, conhecidos na época como bônus de guerra.

Os três heróis - John “Doc” Bradley, René Gagnon e Ira Hayes- aceitam o oportunismo de seus governantes de forma distinta, fato que os torna humanos, desmonta a imagem do guerreiro leal ao seu país sobre todas as coisas e destaca o companheirismo existente entre os soldados que efetivamente lutaram e colocaram suas vidas em risco.

As diferenças entre Bradley, Gagnon e Hayes durante a turnê também estão bem claras. O primeiro aceita tudo passivamente, enquanto Gagnon pousa para fotos como uma estrela de Hollywood. Hayes, por sua vez, sofre com o racismo por sua descendência indígena.

Completa a obra de Eastwood, o efeito da foto de Rosenthal nos parentes dos soldados que estavam em Iwo Jima. Como a imagem não mostra os rostos, algumas famílias discutiram sobre a presença de seus filhos no retrato histórico. A foto significou algum alivio para pais daqueles que perderam a vida durante a sangrenta batalha.

Sem parecer piegas ou nacionalista em exagero, o filme passeia por Japão e EUA, retratando a batalha e os efeitos da mesma na América do Norte com propriedade. Com ótima fotografia, “A Conquista da Honra” é histórico sem ser pesado, cativante sem ser meloso e, no fim, é um filme sobre lealdade e pessoas que passaram por grandes traumas.

Obrigatório para quem gosta de cinema.

“Cartas de Iwo Jima”, filme que mostra o lado japonês da batalha, estréia em 16 de fevereiro.

SOBRE A BATALHA DE IWO JIMA

de divulgação

A batalha de Iwo Jima foi concebida pelos Aliados como um passo necessário na Guerra do Pacífico para derrotar o Japão. Os Aliados diariamente faziam bombardeiros sobre o Japão, a partir das Ilhas Marianas. Iwo Jima, controlada pelos japoneses, era uma antiga estação de alerta, que irradiava relatórios para a ilha principal. Quando as bombas dos Aliados atingiram o Japão, as defesas antiaéreas estavam esperando e atingiram aviões americanos que tentavam voltar para casa, que se tornaram alvos fáceis dos pilotos inimigos nos céus perto de Iwo Jima. Como Iwo Jima era uma base aérea, os bombardeiros ali baseados faziam ataques quase todas as noites nos céus de Saipan. Se os bombardeios aos Aliados continuassem, a ameaça Iwo Jima teria de ser neutralizada. Embora os Aliados estivessem procurando outros alvos estratégicos, especialmente Okinawa, parecia que aquelas invasões se estenderiam por meses e Iwo Jima era um alvo mais imediato. Iwo Jima tornou-se a primeira batalha em território japonês durante a Segunda Guerra.

Os Estados Unidos iniciaram intenso ataque naval e aéreo, atacando os 22 mil soldados que defendiam a ilha em 16 de fevereiro de 1945. Os americanos a invadiram três dias depois.

Na luta, o primeiro passo era capturar o ponto mais alto da ilha: o Monte Suribachi, de quase 170 metros, ao sul da ilha. Ao desembarcarem da praia, os 30 mil soldados abriram fogo violentamente ao circundar o Monte Suribachi. Mais 40 mil fuzileiros chegariam nos dias seguintes. A luta foi árdua, porém em 23 de fevereiro os fuzileiros tomaram Suribachi e ali fincaram a bandeira americana (duas vezes).

Nos 31 dias seguintes, os EUA e o Japão mantiveram a luta pela ilha. Os fuzileiros foram para o norte para capturar os campos aéreos; as tropas japonesas lutaram até a morte pelo controle. Em 26 de março, a batalha cobrava seu preço, especialmente ao Japão. Dos 22 mil soldados, sobreviveram apenas 1.083; 6.821 americanos pereceram, entre eles três dos que haviam levantado a bandeira (Sargento Michael Strank, Harlon Block e Franklin Sousley). Vinte mil americanos foram feridos na batalha.

Vinte e sete Medalhas de Honra foram concedidas a soldados por sua conduta na invasão de Iwo Jima – o maior número na história por uma só batalha e mais de 25 por cento de todas as concedidas durante a Segunda Guerra.

“Esta é a história de toda uma geração que deu o sacrifício máximo por seu país, e como isso os afetou”, resume Eastwood. O diretor, que espera homenagear cada homem descrito no filme, esforçou-se em dar o maior número de detalhes possíveis sobre quem eles eram e aqueles que conheceram os homens envolvidos.

“Acho que Clint estabeleceu um tom que devemos em homenagem a esses homens para contar a história de maneira correta e verdadeira”, afirma Neil McDonough, que interpreta o capitão Severance. “Formamos um grupo que trabalhou como uma equipe para contar a verdade sobre como aquela época foi terrível para aqueles homens”.

O pai do membro da equipe de produção de som Alan Murray esteve lá e jamais tocou no assunto. Isso era comum entre veteranos de Iwo Jima.

“Fui à comemoração do 60º aniversário em São Francisco, passei bastante tempo com veteranos lá”, lembra Eastwood. “Contaram várias histórias. Havia um homem mencionado no livro, Danny Thomas. Também era integrante do corpo médico, numa função parecida com a de John Bradley. Ele jamais falara de Iwo Jima, como John Bradley. Nunca falara da guerra. Voltou à sua vida e, mais velho, decidiu falar a respeito. Conversamos sobre o tema e ele se mostrou emocionado sobre seus sentimentos na época. Era um grupo de pessoas impressionantes”, conclui o diretor.


SOBRE O FOTÓGRAFO JOE ROSENTHAL

de divulgação

A fotografia de Joe Rosenthal, vencedora do Prêmio Pulitzer e uma das imagens mais reproduzidas na história da fotografia, inspirou cartazes, capas de inúmeras revistas e jornais, até mesmo o Memorial de Guerra do Corpo de Fuzileiros em Arlington, Virgínia.

Tal como os sobreviventes de sua fotografia, Rosenthal tornou-se uma celebridade. Inicialmente classificado como 4-F pelo Serviço de Seleção (inapto para o serviço militar) porque enxergava mal, Rosenthal foi reclassificado como 2-AF porque, segundo uma reportagem da revista Time da época, a fotografia garantiu a ele "uma classificação melhor do que 4-F”.

Mas há controvérsias. Alguns dias depois de a foto, agora famosa, estar nas primeiras páginas dos jornais em todo o país, um repórter perguntou a Rosenthal se a fotografia era posada. Rosenthal, pensando que o repórter estava se referindo a uma outra fotografia, obviamente posada, dos fuzileiros com a bandeira, respondeu, “Claro”. O fato de a fotografia retratar o segundo levantamento da bandeira aumentou a confusão e, nos 50 anos seguintes, Rosenthal foi acusado de manufaturar uma imagem do que tinha visto mais cedo.

Para ajudar a organizar pedidos de entrevistas e aparições, a Associated Press preparou uma “seção Rosenthal”. Rosenthal conheceu o presidente Truman, recebeu da AP um bônus correspondente a um ano de salário em Títulos de Guerra e ganhou o Prêmio Pulitzer.

Ele faleceu aos 94 anos, em agosto de 2006. Num obituário do New York Times, Richard Goldstein elogiou seu trabalho mais famoso, escrevendo: “A foto triunfal, representando a primeira conquista de tropas americanas em território governado como parte do solo japonês atingiu emocionalmente o front americano e ressoou profundamente como símbolo da diversidade na vida americana”.

Para Rosenthal, estava claro quem eram os heróis. No artigo de Collier, ele comentou: “De todos os elementos da fotografia, meu papel foi o menos importante. Para levar a bandeira até lá, os soldados americanos tiveram de morrer naquela ilha e nas águas, no ar. Que diferença faz quem tirou a foto? Fui eu, mas os fuzileiros é que tomaram Iwo Jima”.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Por que nao:)

4:20 AM  

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